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9.10.13

A Europa não tem culpa

Se calhar depois deste post, muita gente vai deixar de ler este blog, ou vão achar-me fria, sem ponta de humanidade e vou ouvir umas tantas críticas. Venham elas, eu aceito e ouço tudo, aprendo e até posso mudar de ideias. :)
Isto vem a propósito da visita de Durão Barroso a Lampedusa e dos gritos de "assassino" pela população da ilha. Todos sabemos que as revoltas do povo são sempre mandadas por slogans exagerados, o objetivo será sempre passar a imagem de inconformismo com a tragédia que aconteceu. Mas o que parece, não querendo defender o governo italiano nem a União Europeia, é que andam à procura de um bode expiatório para este triste episódio.
É muito bonito rever as leis das fronteiras e/ou de asilo, ou ainda "destinar 30 milhões de euros suplementares à Itália para um fundo destinado a lidar com este fluxo de pessoas", mas será que estas medidas vão mudar esta realidade? Chamem-me de "nórdica", mas não acredito. Acho que, pelo contrário, vão aumentar a emigração clandestina, vão aumentar a carga das nações com este problema e nada vai ser resolvido. A Europa continua em crise, embora com sinais de melhoria. Pela primeira vez (e é aqui que me vão atirar com um saco de pedras), devíamos fechar-nos, relançar a economia, diminuir o desemprego, canalizar esses 30 milhões para outras causas. Dentro da Europa também se passa fome, também se emigra, muitas vezes em condições precárias. Quantos pais de família vão para Franças, Suíças, Alemanhas à procura de uns trocos, nem que tenham de dormir em carros, com temperaturas negativas, em quartos com mais 5 ou 6 pessoas que não conhecem de lado nenhum? Quantas pessoas foram enganadas por agências de trabalho fictícias? Tragédias também acontecem com os nossos (e digo "os nossos" porque considero-me uma cidadã europeia e acredito na União Europeia).
Mas o problema da questão da emigração clandestina é muito maior, é algo que a comunidade europeia não consegue resolver (embora tente atenuar), o problema está na origem, no que faz estas pessoas correrem riscos de tamanha envergadura para uma vida melhor.
Ninguém consegue imaginar o desespero de uma família para embarcar ao meio da noite, para vaguear dias e dias em pleno mar, para se atirarem à água e nadarem até à costa, tentando não serem vistos. É fugir para sobreviver (ou sobreviver para fugir). Dói a quem está deste lado, é um sentimento de vergonha, como disse Francisco I, mas é um sentimento de vergonha porque, deste lado, não conseguimos mudar este rumo.



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