Se há coisa que me irrita profundamente neste país, é partirem do princípio que é "normal" não pagar aos empregados, ou pagar atrasado, ou às prestações. A culpa é da crise, a culpa é da dívida, a culpa é da troika, a culpa é de quem não paga o que deve, a culpa é de toda a gente menos do empregador.
Seria bonito se quem tem empréstimos bancários e obrigações financeiras pudesse fazer o mesmo, não era? Desculpe lá, cara Caixa Geral de Depósitos, mas sabe, a crise... Vai ter de aguardar um bocadinho antes de retirar da minha conta o belo montante do empréstimo para a casa. Querida EDP, aguente-se um bocado, sim? É que ainda não recebi. Sabe, a crise... Olha filho, diz lá na escola que não podes pagar o passe do autocarro, porque os papás ainda não receberam. Por enquanto, nenhuma destas situações se aplica ao meu caso, por uma razão muito simples: ainda vivo em casa dos meus pais. São eles que pagam a conta da luz, da Internet, que pagam a minha alimentação. Graças a Deus, nunca precisaram de fazer um empréstimo, sempre conseguiram poupar ao longo da vida. E acredito que, um dia quando eu decidir sair de casa para ter o meu próprio espaço, os meus principais credores vão ser as economias dos meus pais.
Mas retomando o primeiro assunto, posso não ter os gastos que acima mencionei, mas tenho outros: o meu carro não anda a água nem a ar, tenho todos os meses um curso de inglês a pagar, os carregamentos do telemóvel e o belo do empréstimo do carro (a pagar não aos bancos, mas ao meu paizinho) que não quero falhar. São coisas essenciais, nada de fútil ou desnecessário. Mas quando certas pessoas falham nas suas obrigações, é preciso fazer uma ginástica dos diabos para eu não falhar nas minhas...
Infelizmente, parece que o facto de termos o nosso posto de trabalho não garante um salário no final do mês. Até parece que temos de ficar agradecidos eternamente à entidade patronal por nos dar uma hipótese de exercermos a nossa área e não reclamar, porque não percebemos nada da vida, e porque, lá está, estamos em crise, temos de ser uns pelos outros. A parte que não entendo do "uns pelos outros" é a parte que me toca: eu tenho de trabalhar, acordar todos os dias às 7.30, chegar a casa entre as 19 e as 20 horas, chegar ao fim do mês e "ahhh, a crise". Pois, acontece que não fui feita para isso. Trabalhar de graça nunca fez parte dos meus valores de vida. Não dá.
Como é que vou, um dia, sair de casa dos meus pais, ter o meu espaço, a minha família nestas condições? Se alguém souber, agradeço que me dê essa receita mágica, dava jeito...
Que vou ter de contar trocos para o resto da minha vida, até posso viver com isso, mas e se não tiver sequer trocos para contar?
(PS: Desculpem lá o desabafo)
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